Reflexos

Ela caminhava na noite fria.
A rua estava um tanto deserta e ela estava só.
Havia névoa, mas ela estava fascinada pela beleza do outono que havia começado.
Seguiu.
Andou pelas luzes turvas e respirou fundo. Tão puro!
O ar gelado da noite invadiu seu corpo e trouxe um tanto de alívio.
Não entendeu o por quê.
Deu dois passos à frente e parou. Pensou ter ouvido seu nome e prestou atenção atenção no silêncio.
Nada.
Mais um passo, outra vez.
A voz era distante, fraca, mas estava certa de que era o seu nome que chamava.
Estremeceu.
Atentou para a direção daquele sussurro e caminhou ao encontro dele.
Sentia um certo medo, mas estava curiosa demais para fugir.
Seguiu em frente.
Ao passo que caminhava, o vento ficou mais forte e tudo mais denso.
As luzes eram mais fracas e a rua mais vazia.
Não se importou.
A voz distante chamava seu nome e ela estava decidida a encontra-la.
Avistou um vulto.
Alguém caminhava em sua direção.
Sentiu seu corpo gelar, e uma quantidade enorme de adrenalina invadir todas as partes.
Aos passos lentos, aproximavam-se. Ela não via o rosto, mas constatou ser uma mulher.
Ouviu novamente o seu nome num sussurro.
As luzes se acenderam.
Um súbito de medo e confusão atingiu sua alma quando reconheceu o rosto daquela que lhe chamava.
Ao que pensou em correr, uma mão segurou seu ombro e uma voz desconhecida gritou:
– Tarde demais!
Sentiu seu corpo ser empurrado para trás.
Sentiu uma imensidão inteira passar antes que alcançasse o chão.
Viu todas as suas memórias irem embora.
O vulto ainda a observava.
Acordou com o coração acelerado e a cabeça a mil.
Ainda assustada, tentou assimilar o pesadelo.
O vulto no espelho era seu próprio reflexo.
Queria entender.

Divididos

Uma cama
um quarto
uma mesa de estudos.

Um cheiro
um chamego
olhos fechados.

Um feixe de luz
um bocejo
um bom dia com beijo.

Um dia a mais
um carinho
um papo diferente.

Uma visão
dois futuros
dois caminhos diferentes.

Uma decisão
uma divisão
dois inseguros.

Um bilhete de ida
uma lágrima caída
uma esperança no coração.

Um amor nascido
criado e fortalecido
em dois
agora divididos.

House of Souls

I saw a place crowded with souls
there were skulls and fingers and teeth
I saw a place filled with tragedy 
traces of a tears and blood and sweat.

The smell was still in the air
remaining still undercover 
their pain ripping apart my own soul
through barber wires and chains and ropes.

The place where once carried the horror 
now brings money and questions
why and how could this all have happened?
weren’t they just human beings?
what fault justifies such cruelty?

I saw a place that can never be unseen
I saw souls hanging around the trees
I saw trees carrying those souls with them 

And in me
it now lies
a witness of a horror to never forget.

The Road

I sit in a bus with a fixed destination 
I sit in a seat which thousands have tried
I stare outside looking for clues
Where am I? I ask myself.

The music out of my EarPods leads my mind
To the place where no one else enters
I glance at the screen inside the vehicle
Nothing interesting, just distractions.

I look again outside
I hunt hints
I miss loved ones
I think of the future
I fear uncertainties
I drift in my mind.

I remember, at last
There is no ground
No sky and no wind
Which could stop me from moving
Which could kill my motion.

And for that and for more
I’m heading south today
But most frequently
I’m nowhere to be found.